A personalidade de Tiradentes
Que Tirandentes não era líder da Inconfidência Mineira e não
tinha aquela aparência de Jesus Cristo, já é mais que difundido. As mais
recentes publicações sobre a Inconfidência Mineira revelam que o “homem
compromissado com idéias revolucionárias e liberais do iluminismo”, era dono de
escravos. E não era tão carismático e agradável como se apregoa. Sua fama era
de exaltado e mal-humorado, porque não se entendia com as pessoas, era muito
nervoso e com certo pendor para a polêmica. Chegou a tentar fazer tráfico de
influência, com falsas promessas de trabalho para pessoas que participassem da
Inconfidência Mineira.
Tiradentes, um oficial “insubordinado”
Tiradentes era militar do Regimento de Cavalaria Paga, um dos maiores motivos pelo qual é Patrono das Polícias Militares. Seu posto era o de Alferes, o equivalente à Tenente. E, olha que coisa, era um profissional de baixa remuneração, mesmo recebendo mais do que ganha um Tenente da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Tanto que uma carta de Tiradentes reivindicando aumento de salário faz parte do acervo do Museu da PM, que funciona no Batalhão do Bairro Prado, da Polícia Militar de Minas Gerais.
Apesar disso, Tiradentes não era pobre. Ao ser preso acusado de traição, tinha um patrimônio equivalente ao do ouvidor de Vila Rica, Tomás Antônio Gonzaga. É que naquela época o prestígio não era associado à riqueza, mas a títulos de fidalguia.
O Tiradentes “tiro, porrada e bomba”
Como Alferes do Regimento de Cavalaria Paga, Tiradentes desmantelou à quadrilha da Mantiqueira, um grupo de assaltantes que aterrorizava os caminhos das Minas no início da década de 1780. Quatro anos depois foi denunciado pelo padre Domingos Vidal de Barbosa Lage – que veio a se tornar seu colega de Inconfidência – por uso de violência, tirania e arbitrariedade contra um sacerdote moribundo e seu irmão.
Tiradentes pediu para sair
Insatisfeito por não conseguir promoção na carreira, e por ter perdido a função de comandante da patrulha do Caminho Novo, e ainda inconformado com o baixo salário, Tiradentes abandonou a carreira militar para se dedicar a carreira de empreendedor de obras e dono de moinho.
Construindo meu próprio mito
O mito Tiradentes é muito versátil. De símbolo de grupo de guerrilheiros à Patrono das PM, é pau para toda obra. E eu vou construir um mito para mim.
Tiradentes era um Tenente do Regimento de Cavalaria, implacável contra o crime e por vezes cometia excessos. Não era reconhecido pelo Estado e tampouco pela Corporação, recebendo péssimos salários e sendo cangalhado constantemente nas promoções. Fazendo jus à classe que representa, Tiradentes teve filhos com mulheres diferentes: João, com uma mulata e Joaquina, com uma ruiva. Suas reivindicações por melhoria salarial pareciam em vão. Cansado de dar murro em ponta de faca, e mais uma vez vendo que não era valorizado à altura do seu trabalho, solicitou baixa. Foi seguir carreira como empreendedor de obras e dono de moinho, onde conseguiu fazer sua pequena fortuna. Porém, insatisfeito com a Coroa Portuguesa desde a época de Cavalaria, não sossegou enquanto não arrumou plano para atingí-la. Tanto procurou que conseguiu: uma conjuração, com homens não tão corajosos quanto ele, e uma corda no pescoço. Talvez tenha contribuído para sua fatídica morte o fato de ele ter culhão de assumir a responsabilidade pelo movimento, de não ser maçom, não ser oficial de patente mais alta e não ter tanto prestígio quanto os demais. Fim.
Esse é o meu Tiradentes, muito mais próximo da realidade que o barbudinho dos livros didáticos, Patrono das Polícias Militares do Brasil. Você pode conhecê-lo melhor no Blog da Renata da Wikipedia , Estado de Minas, Diário de um PM
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Mais de 200 anos após sua morte, Tiradentes segue sem um rosto
De líder messíanico a militar esguio, Tiradentes tem representações oficiais que dificilmente correspondem à realidade. Curiosamente, a verdadeira feição do mártir de tantas faces segue resistindo a anos de estudos.
Gustavo Werneck - EM
Passados 220 anos da morte de Tiradentes, ninguém sabe exatamente como era o rosto do herói. As faces que conhecemos são idealizações: a versão do mártir de barbas e cabelos longos, que lembra Cristo, como mostra o primeiro registro, uma litografia de 1890, do pintor carioca Décio Villares (1851 – 1931), ou a imagem de porte esguio e elegante do alferes, enaltecida em quadro de 1940, que se tornou ícone da Polícia Militar de Minas Gerais. Segundo os estudiosos, a figura messiânica, de túnica branca, foi criada logo no início da república, que precisava de um símbolo forte para sepultar, de vez, a imagem cunhada no século 19 dos inconfidentes, retratados como poetas e românticos.
A única referência visual existente sobre Tiradentes revela um “homem de olhar espantado”, aspecto que denotaria um caráter ansioso e presença de certo tique nervoso. Mas, conforme os historiadores, no fim da vida ele não usaria barba. Ao ser preso, teve os bens sequestrados, mas deixaram que ele mantivesse na cadeia, conforme está documentado, um missal (livreto religioso) e duas navalhas, com certeza usadas para que se barbeasse.
Ao longo dos anos, Tiradentes surgiu representado de diferentes maneiras.
O desconhecimento da face verdadeira do herói que, diz a história oral, teve a cabeça roubada em Ouro Preto depois do esquartejamento do corpo no Rio de Janeiro, sempre intrigou os pesquisadores. Em 1960, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais formou uma comissão para cuidar do assunto e traçar o retrato do mártir, sem chegar a uma definição. Na década seguinte, novo grupo se debruçou sobre o mesmo tema, chegando à conclusão de que o rosto do herói seria liso, tendo em vista a posse das navalhas no cárcere.
Autor do livro O Manto de Penélope – História, Mito e Memória da Inconfidência Mineira de 1788-9, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) João Pinto Furtado está certo de que a apropriação simbólica de Tiradentes é até mais importante do que ações de fato praticadas pelo herói. “Ele plantou a semente da liberdade, era um ativista, embora entre os planos dos inconfidentes não estivessem temas como a libertação dos escravos. Tiradentes tinha três deles quando foi preso, e os demais inconfidentes também eram donos de muitos escravos A emancipação dos negros, por sinal, já vinha sendo feita nos Estados Unidos”, conta o professor, que apresenta em seu livro as diversas leituras feitas, ao longo do tempo, sobre a face do herói. Apesar da controvérsia sobre o verdadeiro aspecto do mito, o historiador tem uma certeza: “Tiradentes ficou eternizado”.
Ele conheceu o mito
Um documento garimpado pelo Ministério Público estadual, via Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico, em edição do Minas Gerais, Diário Oficial do Estado de 19 de novembro de 1892, joga mais luz sobre a figura de Tiradentes. Conforme relato de Severino Francisco Pacheco, então com 115 anos, ex-praça de cavalaria do Segundo Regimento de Ouro Preto, o alferes “era um homem alto, sympathico, bonito e gênio alegre”. Pacheco estava no início da adolescência quando viu Tiradentes várias vezes numa casa do Largo do Rosário “tocar violão e cantar modinhas, no que era perito”. Segundo o jornal, Pacheco, em 1892, era casado com uma “menina” de 60 anos.
Tiradentes, um oficial “insubordinado”
Tiradentes era militar do Regimento de Cavalaria Paga, um dos maiores motivos pelo qual é Patrono das Polícias Militares. Seu posto era o de Alferes, o equivalente à Tenente. E, olha que coisa, era um profissional de baixa remuneração, mesmo recebendo mais do que ganha um Tenente da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Tanto que uma carta de Tiradentes reivindicando aumento de salário faz parte do acervo do Museu da PM, que funciona no Batalhão do Bairro Prado, da Polícia Militar de Minas Gerais.
Apesar disso, Tiradentes não era pobre. Ao ser preso acusado de traição, tinha um patrimônio equivalente ao do ouvidor de Vila Rica, Tomás Antônio Gonzaga. É que naquela época o prestígio não era associado à riqueza, mas a títulos de fidalguia.
O Tiradentes “tiro, porrada e bomba”
Como Alferes do Regimento de Cavalaria Paga, Tiradentes desmantelou à quadrilha da Mantiqueira, um grupo de assaltantes que aterrorizava os caminhos das Minas no início da década de 1780. Quatro anos depois foi denunciado pelo padre Domingos Vidal de Barbosa Lage – que veio a se tornar seu colega de Inconfidência – por uso de violência, tirania e arbitrariedade contra um sacerdote moribundo e seu irmão.
Tiradentes pediu para sair
Insatisfeito por não conseguir promoção na carreira, e por ter perdido a função de comandante da patrulha do Caminho Novo, e ainda inconformado com o baixo salário, Tiradentes abandonou a carreira militar para se dedicar a carreira de empreendedor de obras e dono de moinho.
Construindo meu próprio mito
O mito Tiradentes é muito versátil. De símbolo de grupo de guerrilheiros à Patrono das PM, é pau para toda obra. E eu vou construir um mito para mim.
Tiradentes era um Tenente do Regimento de Cavalaria, implacável contra o crime e por vezes cometia excessos. Não era reconhecido pelo Estado e tampouco pela Corporação, recebendo péssimos salários e sendo cangalhado constantemente nas promoções. Fazendo jus à classe que representa, Tiradentes teve filhos com mulheres diferentes: João, com uma mulata e Joaquina, com uma ruiva. Suas reivindicações por melhoria salarial pareciam em vão. Cansado de dar murro em ponta de faca, e mais uma vez vendo que não era valorizado à altura do seu trabalho, solicitou baixa. Foi seguir carreira como empreendedor de obras e dono de moinho, onde conseguiu fazer sua pequena fortuna. Porém, insatisfeito com a Coroa Portuguesa desde a época de Cavalaria, não sossegou enquanto não arrumou plano para atingí-la. Tanto procurou que conseguiu: uma conjuração, com homens não tão corajosos quanto ele, e uma corda no pescoço. Talvez tenha contribuído para sua fatídica morte o fato de ele ter culhão de assumir a responsabilidade pelo movimento, de não ser maçom, não ser oficial de patente mais alta e não ter tanto prestígio quanto os demais. Fim.
Esse é o meu Tiradentes, muito mais próximo da realidade que o barbudinho dos livros didáticos, Patrono das Polícias Militares do Brasil. Você pode conhecê-lo melhor no Blog da Renata da Wikipedia , Estado de Minas, Diário de um PM
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Mais de 200 anos após sua morte, Tiradentes segue sem um rosto
De líder messíanico a militar esguio, Tiradentes tem representações oficiais que dificilmente correspondem à realidade. Curiosamente, a verdadeira feição do mártir de tantas faces segue resistindo a anos de estudos.
Gustavo Werneck - EM
Passados 220 anos da morte de Tiradentes, ninguém sabe exatamente como era o rosto do herói. As faces que conhecemos são idealizações: a versão do mártir de barbas e cabelos longos, que lembra Cristo, como mostra o primeiro registro, uma litografia de 1890, do pintor carioca Décio Villares (1851 – 1931), ou a imagem de porte esguio e elegante do alferes, enaltecida em quadro de 1940, que se tornou ícone da Polícia Militar de Minas Gerais. Segundo os estudiosos, a figura messiânica, de túnica branca, foi criada logo no início da república, que precisava de um símbolo forte para sepultar, de vez, a imagem cunhada no século 19 dos inconfidentes, retratados como poetas e românticos.
A única referência visual existente sobre Tiradentes revela um “homem de olhar espantado”, aspecto que denotaria um caráter ansioso e presença de certo tique nervoso. Mas, conforme os historiadores, no fim da vida ele não usaria barba. Ao ser preso, teve os bens sequestrados, mas deixaram que ele mantivesse na cadeia, conforme está documentado, um missal (livreto religioso) e duas navalhas, com certeza usadas para que se barbeasse.
Ao longo dos anos, Tiradentes surgiu representado de diferentes maneiras.
O desconhecimento da face verdadeira do herói que, diz a história oral, teve a cabeça roubada em Ouro Preto depois do esquartejamento do corpo no Rio de Janeiro, sempre intrigou os pesquisadores. Em 1960, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais formou uma comissão para cuidar do assunto e traçar o retrato do mártir, sem chegar a uma definição. Na década seguinte, novo grupo se debruçou sobre o mesmo tema, chegando à conclusão de que o rosto do herói seria liso, tendo em vista a posse das navalhas no cárcere.
Autor do livro O Manto de Penélope – História, Mito e Memória da Inconfidência Mineira de 1788-9, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) João Pinto Furtado está certo de que a apropriação simbólica de Tiradentes é até mais importante do que ações de fato praticadas pelo herói. “Ele plantou a semente da liberdade, era um ativista, embora entre os planos dos inconfidentes não estivessem temas como a libertação dos escravos. Tiradentes tinha três deles quando foi preso, e os demais inconfidentes também eram donos de muitos escravos A emancipação dos negros, por sinal, já vinha sendo feita nos Estados Unidos”, conta o professor, que apresenta em seu livro as diversas leituras feitas, ao longo do tempo, sobre a face do herói. Apesar da controvérsia sobre o verdadeiro aspecto do mito, o historiador tem uma certeza: “Tiradentes ficou eternizado”.
Ele conheceu o mito
Um documento garimpado pelo Ministério Público estadual, via Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico, em edição do Minas Gerais, Diário Oficial do Estado de 19 de novembro de 1892, joga mais luz sobre a figura de Tiradentes. Conforme relato de Severino Francisco Pacheco, então com 115 anos, ex-praça de cavalaria do Segundo Regimento de Ouro Preto, o alferes “era um homem alto, sympathico, bonito e gênio alegre”. Pacheco estava no início da adolescência quando viu Tiradentes várias vezes numa casa do Largo do Rosário “tocar violão e cantar modinhas, no que era perito”. Segundo o jornal, Pacheco, em 1892, era casado com uma “menina” de 60 anos.
Texto
de Renata Pimenta
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